quinta-feira, 24 de março de 2011

A volta dos que não foram

Imagine que você foi convidado para fazer um cruzeiro no natal. Você vai conhecer o litoral nordestino, praias paradisíacas e circular por um navio gigantesco durante uma semana.
Quatro meses antes você começa a preparação. Pede folga no trabalho, discussões com a família por passar no natal longe, compra passagem de avião, roupas, planeja os passeios que vai fazer em cada parada...
No dia que o navio zarpa você acorda muito cedo, pega um ônibus para a capital, um avião para o Rio de Janeiro e vai até o porto da cidade maravilhosa com um calor infernal de pleno verão carioca. Malas despachadas, é só esperar o tempo do embarque.
E esperar. E esperar. E esperar mais um pouco. Um galpão enorme, com cerca de mil pessoas passando calor, esperando para embarcar no navio. As cadeiras não são suficientes, se quiser sentar, o único lugar disponível é o chão. Quatro horas depois, finalmente você consegue entrar.
Na cabine, o calor é maior que o da rua. Você tenta acionar o ar-condicionado. Cinco minutos depois um alto-falante informa que o sistema de refrigeração está com defeito e será concertado até o dia seguinte. "OK, posso aguentar um dia de calor. A viagem vai ser maravilhosa" - você pensa. Alguns minutos mais tarde, nova informação: o trajeto será alterado para o conserto, que será feito nos dias seguintes.
A notícia não agrada, mas você decide aproveitar o jantar oferecido em um dos elegantes restaurantes do navio. Lá, enquanto o garçom entrega a entrada, um último aviso é dado: o cruzeiro foi cancelado e permanecerá no porto.
Você não conhecerá mais as praias nordestinas, mas pelo menos poderá usufruir da estrutura do navio como um hotel durante uma semana. Às 2h você consegue trocar a sua cabine por uma externa, e torce para que haja algum vento que refresque um pouco o ambiente.
Às 9h o auto-falante traz uma nova informação: todos os passageiros devem deixar o navio até as 10h. Caso contrário, serão levados com ele até a baía de Guanabara para o conserto. Desesperadamente você toma um banho, joga as roupas dentro da mala, engole alguma coisa no café e consegue sair do navio às 9h59.
Depois disso, acaba parando em Niterói (é época de natal e todos os hotéis da capital estão lotados), onde passa o período em que deveria conhecer Recife, Maceió e Salvador.
Quando finalmente chega em casa pode dizer que, se fosse filmado, seria parte do elenco de "A volta dos que não foram".

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